O meu relacionamento tóxico com a comida.
Quando comer vira uma tortura e não comer, um pesadelo.
Eu nem sempre vivi nesse mártir, entretanto, já nasci uma criança gorducha. As pessoas amam bebês gordinhos, mas quando se tornam crianças e jovens gordos eles veem como algo grotesco. Enquanto eu ia crescendo, percebia como as pessoas falavam do meu corpo a todo momento, ignorando totalmente o resto da pessoa que eu era. Eu era uma criança e todos só queriam saber quando eu me tornaria uma adolescente magra e bonita.
E eu me tornei, sim, uma adolescente linda. Meu corpo tinha sido aceito, meu cabelo estava gigantesco e liso, minha pele de recém mocinha estava belíssima e ainda sem manchas de acne. Ainda sim, eu estava ainda mais infeliz quanto antes, porque eu sentia que ainda precisava perder mais peso, e a que preço? O preço era crises de choro e ansiedade que me dominavam e embrulhavam o meu estômago. Eu acordava tarde para o café da manhã e todo o meu almoço acabava no vazo sanitário, o que me manteve de pé foram os lanches da escola e o jantar quando eu chegava em casa, me sentindo melhor para ingerir algo e não colocar tudo para fora.
Não, eu não vomitava porque eu queria, não me forçava a isso de forma alguma e até hoje eu jamais fora diagnosticada com o que quer que tenha me afligido naquela época. Eu só ficava tão ansiosa que meu estômago não conseguia segurar o alimento. A ansiedade sempre me atinge no estômago.
Bem, eu consegui superar a fase que me fazia não conseguir comer e entrei naquela de simplesmente não sentir mais fome. Eu comia quando sentia vontade e assim segui a minha vida. Até que a fome voltou e voltou tão forte que não consigo controlar as vezes. Eu nem sempre sinto aquela sensação no estômago de fome, só quero algo pra mastigar. Eu procuro comida, como quem procura um hobbie. Como tão depressa que nem aproveito a refeição, não da nem tempo ao meu corpo de absorver tudo como deve, e isso tudo me fez engordar mais do que já engordei antes. Foi só no momento em que percebi o quanto eu havia engordado, que a comida virou minha arque inimiga de vez.
O meu corpo se tornou grande e pesado, o meu cabelo frágil e a minha pele cheia de acne, tão oleosa que posso fritar pastéis com esse óleo. Olha eu falando de comida mais uma vez. Eu perdi as roupas mais legais que eu tinha, e agora é um sofrimento sempre que preciso comprar novas, nada fica realmente bom e confiável, apenas apresentável. Não gosto mais de sair, porque tentar me enfiar nas roupas e sentir que algumas começam a me apertar demais me incomoda e me faz cair em outro limbo de pensamentos desesperadores de que eu preciso emagrecer.
Então eu faço o almoço e como, depois me sinto culpada por não ter seguido a minha dieta improvisada de diminuir a quantidade e adicionar mais salada, eu nem sou muito fã de salada. Quando a comida acaba eu me sinto culpada e digo que não vou mais comer naquele dia, mas as horas passam e a fome vem de novo, como uma assombração chegando pra me atormentar. Eu me forço a não ouvi-la e isso me deixa arrasada, porque me da a sensação de que se eu comer alguma coisa aquilo vai passar, só que nunca é assim. Estou em um looping a procura de aceitação e ela nunca vem.
Eu sonho com os dias em que comer me dê prazer e a fome não seja mais uma tortura, almejo não me odiar ao ponto de me torturar dessa forma e que o meu corpo seja saudável e amado por mim, porquê nada disso é culpa dele. É a minha mente que esta doente.
Bem, isso é tudo por hoje. Ate a próxima e obrigada por ler ate aqui.
A terapia te ajudará muito nesse processo, sinto em mim suas palavras e torço para que você se sinta melhor sem pensar nos números da balança. Você é uma ótima escritora, adorei a escrita e fluidez do texto.
A gente demora tanto a entender isso, né? Que o corpo sofre junto, que ele só tá tentando sobreviver com a gente. Essa frase “nada disso é culpa dele, é a minha mente que está doente” ficou ecoando aqui.
Sim, às vezes a guerra não é com o prato, é com o peso da autoexigência, do padrão, da solidão.
Obrigado por escrever com tanta verdade.