Eu comecei a ler de verdade em meados de 2020, a pandemia realmente converteu bastante gente ao mundo literário e fico feliz por ter sido uma delas. Acho que a primeira vez que li “Os Sete Maridos de Evelyn Hugo” foi em 2021 e depois disso, nunca mais fui a mesma.
Eu não sabia quase nada sobre a história, apenas que se tratava de uma atriz renomada que decidiu contar a sua versão dos fatos, e isso bastou para que eu quisesse ler. Nesse tempo, eu estava começando a ter duvidas sobre a minha sexualidade, mas ainda não tinha tido nenhum envolvimento com mulheres ou consumido qualquer conteúdo com um casal sáfico e enquanto eu lia aquelas páginas e via de perto a amizade de Evelyn e Celia se desenrolando, comecei a ver os sinais de que aquela amizade na verdade se encaminhava para um romance. Fui totalmente pega de surpresa, e esse livro continua sendo o meu favorito ate hoje.
A forma como a autora criou aquele romance foi linda e devastadora do inicio ao fim, eu me peguei querendo ser amada da mesma forma que Evelyn amou Celia, com todo o seu coração, até o seu último minuto de vida. Foi ali que eu vi como o amor entre duas mulheres é intenso e visceral. E hoje eu entendo e sei como é, porque também amo uma mulher com todo o meu ser.
Eu queria dar um monte de coisas para Celia. Queria que tudo que fosse meu também fosse dela. Fiquei me perguntando se era isso que significava amar alguém.
Bem, eu posso dizer que me identifico com a personagem Evelyn Hugo. Claro, eu talvez não faria tudo aquilo que ela fez, mas entendo os seus motivos e não tiro sua razão, o livro se passa em um tempo que as pessoas lgbt não eram bem vistas, não que hoje seja algo fantástico, mas esta melhor, sim. Eu me identifico porque ela foi corajosa, ela não teve medo de amar e de ser quem ela realmente era e eu luto por isso todos os dias, tenho medo de morrer e não ter vivido intensamente e de não ter sido completamente franca comigo mesma. Eu sei que comparar a historia das personagens com a minha, ou de outra pessoa nos dias atuais pode ser errado ou mal visto, pois são épocas e circunstancias diferentes, mas não é isso que estou fazendo, estou querendo contar como esse livro abriu a minha mente.
Foi quando terminei o livro que passei a me ouvir e sentir, entender o que se passava dentro de mim. Pouco a pouco eu percebi que gostava sim de mulheres, pois me apaixonei por uma colega de classe do ensino médio, no final de 2022. Eu já tinha sentido coisas diferentes por garotas antes, mas não compreendia e nunca tinha sido algo tão forte quanto aquilo. Me peguei deitada na minha cama, no escuro, falando em voz alta “eu gosto dela” e para mim, foi como se eu me libertasse de amarraras invisíveis, as quais não fazia ideia de que estavam ali.
Eu sempre ouvia os meus pais falando sobre gays e lésbicas, o quanto eles achavam esquisito e tudo mais e acho que, de alguma forma, isso me deixou “presa” na heterossexualidade compulsória, tipo um medo inconsciente de fazer parte desse grupo tão recriminado. Eu sempre senti que não era completa, que algo me segurava e me impedia de ser totalmente eu. Quando comecei a trabalhar em mim mesma eu passei a sentir partes de mim se libertando e pouco a pouco eu me construo. Quando assumi os meus sentimentos para aquela garota e a amei, deixando que ela também me amasse, eu me dei a liberdade que nunca antes tinha dado e me abri para novas possibilidades e sentimentos lindos, percebi que fazer parte dessa comunidade não era errado, era libertador.
É claro que, fiquei em divida se eu não era lésbica, porque nos relacionamentos que tive com garotos eu não me entreguei como me entrego para essa garota. Nenhum deles jamais me teve, como ela me tem. Mas depois de ler relatos de garotas que se descobriram lésbicas, eu entendi que não era o meu caso, eu só me prendia muito, acho que sempre tive medo de me entregar, precisava apenas de alguém em quem confiar e sou muito grata por essa pessoa ser uma mulher.
Sou bissexual. Não ignore metade do que eu sou só para colocar um rótulo em mim.
Sua escrita é muito boa 👏